Neve no Sul do Brasil reacende lembrança do dia em que MS amanheceu coberto de gelo

Em 1975, Mato Grosso do Sul presenciou o que muitos consideram o maior frio da história, com registros de neve e geada em algumas regiões

| MIDIAMAX/LETHYCIA ANJOS


Frio intenso - Ilustrativa (Arquivo Midiamax)

Após dias de calor intenso, a neve voltou a cair no Sul do Brasil nesta quinta-feira (29), cobrindo cidades com uma fina camada branca que despertam memórias, como o dia em que Mato Grosso do Sul acordou coberto de gelo e viu a neve cair pela primeira vez. O fenômeno remete a 1975, quando a cidade de Paranhos, no sul do Estado, registrou o que muitos descrevem como o maior frio da história sul-mato-grossense.

A história voltou a tona, pois na manhã desta quinta, os flocos brancos voltaram a aparecer em São José dos Ausentes, Rio Grande do Sul, por volta das 7h40. Mais cedo, às 6h, os termômetros do centro da cidade marcavam 2 °C — embora a estação do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) estivesse fora de operação. Já em Cambará do Sul, também nos Campos de Cima da Serra, a chuva congelada chegou acompanhada de neve.

Em Santa Catarina, a nevasca chegou a interditar um dos pontos turísticos mais famosos do Estado, o mirante da Serra do Rio do Rastro, em Bom Jardim da Serra, onde a pista da SC-390 ficou coberta de gelo, conforme a Polícia Militar Rodoviária.

Nevou mesmo em Mato Grosso do Sul?

Sim. Em 17 de julho de 1975, antes da divisão territorial que criou Mato Grosso do Sul, a cidade de Paranhos — ainda pertencente ao Estado de Mato Grosso — amanheceu coberta por uma grossa camada de gelo, registrada por moradores como neve. Ruas, casas, automóveis e lavouras foram tomados pelo fenômeno, que formou poças congeladas com espessura entre dois e seis centímetros. Os termômetros chegaram a -2 °C.

A história atravessou gerações. Délia Martins Duarte, 29 anos, natural de Paranhos, cresceu ouvindo o relato do pai, José de Jesus Duarte, sobre o dia em que a neve caiu na cidade.

“Meu pai tinha acabado de chegar da região de Sanga Puitã, no Paraguai. Ele veio trabalhar em uma fazenda e sempre me contava sobre o maior frio que já viveu', disse em entrevista ao Midiamax em 2023.

Naquele dia, segundo Délia, o céu escureceu subitamente, e pequenos flocos começaram a cair, molhando as roupas dos trabalhadores. Surpreso, José parou tudo para observar o fenômeno, até ser chamado pelo patrão para se abrigar, tamanha era a queda na temperatura.

“Como ele nunca tinha visto neve antes, demorou para entender o que era. Mas essa lembrança marcou profundamente a vida dele', conta a filha.

Muitos desacreditam do relato de José e de outros moradores de Paranhos por conta da escassez de registros meteorológicos da época. De fato, a infraestrutura de monitoramento era precária — e isso alimenta o ceticismo.

“Mas geada não cai do céu, e meu pai não foi o único a contar essa história. Outros familiares lembram da mesma coisa. Quem não acredita, azar o deles', afirma Délia, convicta.

Ponta Porã também viu a neve cair

Paranhos não foi a única cidade sul-mato-grossense a presenciar o fenômeno em 1975. Poucos dias antes, em 6 de julho, a cidade de Ponta Porã também foi ‘agraciada’ com a neve, segundo o meteorologista Natálio Abrão, que testemunhou pessoalmente o evento.

“Na época, só existiam três estações meteorológicas no antigo Estado de Mato Grosso. Por isso, temos registros formais apenas em alguns pontos, mas é provável que o fenômeno tenha ocorrido em outras cidades também', explicou em entrevista ao Midiamax em 2023.

Nevou em 2013?

Em 23 de julho de 2013, ‘nevou’ fraco e por poucos minutos, mas para os moradores que presenciaram o fenômeno foi uma experiência inesquecível. Na época, diversos moradores registraram fotos e deram entrevistas a jornais e redes de televisão para contar como foi a experiência de ver a ‘neve’ de perto pela primeira vez.

“Parecia gelo seco, caía e desmanchava rapidamente. Mas foi muito pouco. Meu filho viu as bolinhas caírem por uns dois minutos. As pessoas falavam que iam cuidar para ver se caía neve e registrar o momento', relatou a professora Regina Pener, ao Jornal Notícias de Rio Verde, em 2013.

Mas para a infelicidade de muitos, o meteorologista Natalio Abrahão esclarece que o fenômeno ocorrido em Paranhos no ano de 2013 não era neve. Segundo ele, não houve condições climáticas favoráveis para que ocorresse o fenômeno.

“Não chegou nem perto de ser neve. O céu estava sem nuvens, não estava nublado e a umidade estava abaixo de 50%. As mínimas nessa época foram -1,6 em Amambai, -1,3 em Bela Vista e -2,4 em Rio Brilhante', explicou.

Vale ressaltar que em 2013 alertas meteorológicos indicavam a possibilidade de neve na região. Mas como os próprios meteorologistas dizem “não existe certeza no vocabulário da Meteorologia'.

Neve ou geada? Qual a diferença?

A dúvida sempre paira quando se fala em neve em Mato Grosso do Sul. Teria sido realmente neve ou apenas uma geada mais intensa?

A meteorologista Valesca Fernandes explica que a principal diferença entre neve e geada está na origem. “A neve se forma nas nuvens, a partir da solidificação do vapor d’água que congela e cai do céu. Já a geada se forma no solo, pela sublimação do vapor diretamente sobre superfícies expostas.'

A neve, portanto, precipita como uma chuva congelada, enquanto a geada é um depósito de gelo que se forma diretamente sobre o solo, plantas ou objetos, geralmente no fim da madrugada. “Se cai do céu, é neve. Se aparece no chão pela manhã, é geada', resume Valesca.

Frente fria chega em MS

Voltando para 2025, nesta semana os termômetros ficaram gelados em Mato Grosso do Sul, como previsto pela meteorologia. Para quem gosta do friozinho, a notícia a boa, já que as temperaturas permanecem amenas no fim de semana.

De acordo com o Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima), entre sexta-feira (30) e domingo (1°), o tempo estará estável e seco. Portanto, manter a hidratação será importante nesse período. A atuação de um sistema de alta pressão atmosférica mantém o tempo seco em Mato Grosso do Sul.

Logo, as manhãs deverão ser geladas, com temperaturas mínimas entre 4 e 10°C, sendo a sexta-feira o dia mais frio do período. Ao longo do final de semana, as temperaturas estarão em elevação, com máximas previstas entre 24 e 27°C, especialmente nas regiões norte e nordeste do Estado.

Estão previstas mínimas entre 4 e 6°C e máximas entre 15 e 21°C para as regiões sul, cone-sul e grande Dourados. Assim, pontualmente, podem ocorrer valores abaixo dos 2 e 3°C.

Há possibilidade para a ocorrência de geadas, com intensidade variando de fraca a moderada, principalmente na sexta-feira. Nas regiões sudoeste e pantaneira, as mínimas devem variar entre 7 e 17°C e as máximas entre 18 e 24°C.

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